Total de visualizações de página

terça-feira, abril 13, 2010

O Brasil pode mais...

O BRASIL PODE MAIS

Venho hoje, aqui, falar do meu amor pelo Brasil; falar da minha vida;
falar da minha experiência; falar da minha fé; falar das minhas
esperanças no Brasil. E mostrar minha disposição de assumir esta
caminhada. Uma caminhada que vai ser longa e difícil mas que com a
ajuda de Deus e com a força do povo brasileiro será com certeza
vitoriosa.
Alguns dias atrás, terminei meu discurso de despedida do Governo de
São Paulo afirmando minha convicção de que o Brasil pode mais. Quatro
palavras, em meio a muitas outras. Mas que ganharam destaque porque
traduzem de maneira simples e direta o sentimento de milhões de
brasileiros: o de que o Brasil, de fato, pode mais. E é isto que está
em jogo nesta hora crucial!
Nos últimos 25 anos, o povo brasileiro alcançou muitas conquistas:
retomamos a Democracia, arrancamos nas ruas o direito de votar para
presidente, vivemos hoje num país sem censura e com uma imprensa
livre. Somos um Estado de Direito Democrático. Fizemos uma nova
Constituição, escrita por representantes do povo. Com o Plano Real, o
Brasil transformou sua economia a favor do povo, controlou a inflação,
melhorou a renda e a vida dos mais pobres, inaugurou uma nova Era no
Brasil. Também conquistamos a responsabilidade fiscal dos governos.
Criamos uma agricultura mais forte, uma indústria eficiente e um
sistema financeiro sólido. Fizemos o Sistema Único de Saúde,
conseguimos colocar as crianças na escola, diminuímos a miséria,
ampliamos o consumo e o crédito, principalmente para os brasileiros
mais pobres. Tudo isso em 25 anos. Não foram conquistas de um só homem
ou de um só Governo, muito menos de um único partido. Todas são
resultado de 25 anos de estabilidade democrática, luta e trabalho. E
nós somos militantes dessa transformação, protagonistas mesmo,
contribuímos para essa história de progresso e de avanços do nosso
País. Nós podemos nos orgulhar disso.
Mas, se avançamos, também devemos admitir que ainda falta muito por
fazer. E se considerarmos os avanços em outros países e o potencial do
Brasil, uma conclusão é inevitável: o Brasil pode ser muito mais do
que é hoje.
Mas para isso temos de enfrentar os problemas nacionais e resolvê-los,
sem ceder à demagogia, às bravatas ou à politicagem. E esse é um bom
momento para reafirmarmos nossos valores. Começando pelo apreço à
Democracia Representativa, que foi fundamental para chegarmos aonde
chegamos. Devemos respeitá-la, defendê-la, fortalecê-la. Jamais
afrontá-la.

Democracia e Estado de Direito são valores universais, permanentes,
insubstituíveis e inegociáveis. Mas não são únicos. Honestidade,
verdade, caráter, honra, coragem, coerência, brio profissional,
perseverança são essenciais ao exercício da política e do Poder. É
nisso que eu acredito e é assim que eu ajo e continuarei agindo. Este
é o momento de falar claro, para que ninguém se engane sobre as minhas
crenças e valores. É com base neles que também reafirmo: o Brasil,
meus amigos e amigas, pode mais.
Governos, como as pessoas, têm que ter alma. E a alma que inspira
nossas ações é a vontade de melhorar a vida das pessoas que dependem
do estudo e do trabalho, da Saúde e da Segurança. Amparar os que estão
desamparados.
Sabem quantas pessoas com alguma deficiência física existem no Brasil?
Mais de 20 milhões – a esmagadora maioria sem o conforto da
acessibilidade aos equipamentos públicos e a um tratamento de
reabilitação. Os governos, como as pessoas, têm que ser solidários com
todos e principalmente com aqueles que são mais vulneráveis.
Quem governa, deve acreditar no planejamento de suas ações. Cultivar a
austeridade fiscal, que significa fazer melhor e mais com os mesmos
recursos. Fazer mais do que repetir promessas. O governo deve ouvir
a voz dos trabalhadores e dos desamparados, das mulheres e das
famílias, dos servidores públicos e dos profissionais de todas as
áreas, dos jovens e dos idosos, dos pequenos e dos grandes
empresários, do mercado financeiro, mas também do mercado dos que
produzem alimentos, matérias-primas, produtos industriais e serviços
essenciais, que são o fundamento do nosso desenvolvimento, a máquina
de gerar empregos, consumo e riqueza.
O governo deve servir ao povo, não a partidos e a corporações que não
representam o interesse público. Um governo deve sempre procurar unir
a nação. De mim, ninguém deve esperar que estimule disputas de pobres
contra ricos, ou de ricos contra pobres. Eu quero todos, lado a lado,
na solidariedade necessária à construção de um país que seja realmente
de todos.
Ninguém deve esperar que joguemos estados do Norte contra estados do
Sul, cidades grandes contra cidades pequenas, o urbano contra o rural,
a indústria contra os serviços, o comércio contra a agricultura, azuis
contra vermelhos, amarelos contra verdes. Pode ser engraçado no
futebol. Mas não é quando se fala de um País. E é deplorável que haja
gente que, em nome da política, tente dividir o nosso Brasil.
Não aceito o raciocínio do nós contra eles. Não cabe na vida de uma
Nação. Somos todos irmãos na pátria. Lutamos pela união dos
brasileiros e não pela sua divisão. Pode haver uma desavença aqui
outra acolá, como em qualquer família. Mas vamos trabalhar somando,
agregando. Nunca dividindo. Nunca excluindo. O Brasil tem grandes
carências. Não pode perder energia com disputas entre brasileiros.
Nunca será um país desenvolvido se não promover um equilíbrio maior
entre suas regiões. Entre a nossa Amazônia, o Centro Oeste e o
Sudeste. Entre o Sul e o Nordeste. Por isso, conclamo: Vamos juntos.
O Brasil pode mais. O desenvolvimento é uma escolha. E faremos essa
escolha. Estamos preparados para isso.
Ninguém deve esperar que joguemos o governo contra a oposição, porque
não o faremos. Jamais rotularemos os adversários como inimigos da
pátria ou do povo. Em meio século de militância política nunca fiz
isso. E não vou fazer. Eu quero todos juntos, cada um com sua
identidade, em nome do bem comum.
Na Constituinte fiz a emenda que permitiu criar o FAT, financiar e
fortalecer o BNDES e tirar do papel o seguro-desemprego – que hoje
beneficia 10 milhões de trabalhadores. Todos os partidos e blocos a
apoiaram. No ministério da Saúde do governo Fernando Henrique tomei a
iniciativa de enviar ou refazer e impulsionar seis projetos de lei e
uma emenda constitucional – a criação da Agência Nacional de
Vigilância Sanitária e da Agência Nacional de Saúde, a implantação dos
genéricos, a proibição do fumo nos aviões e da propaganda de cigarros,
a regulamentação dos planos de saúde, o combate à falsificação de
remédios e a PEC 29, que vinculou recursos à Saúde nas três esferas da
Federação - todos, sem exceção, aprovados pelos parlamentares do
governo e da oposição. É assim que eu trabalho: somando e unindo,
visando ao bem comum. Os membros do Congresso que estão me ouvindo,
podem testemunhar: suas emendas ao orçamento da Saúde eram acolhidas
pela qualidade, nunca devido à sua filiação partidária.
Se o povo assim decidir, vamos governar com todas e com todos, sem
discriminar ninguém. Juntar pessoas em vez de separá-las; convidá-las
ao diálogo, em vez de segregá-las; explicar os nossos propósitos, em
vez de hostilizá-las. Vamos valorizar o talento, a honestidade e o
patriotismo em vez de indagar a filiação partidária.

Minha história de vida e minhas convicções pessoais sempre estiveram
comprometidas com a unidade do país e com a unidade do seu povo. Sou
filho de imigrantes, morei e cresci num bairro de trabalhadores que
vinham de todas as partes, da Europa, do Nordeste, do Sul. Todos em
busca de oportunidade e de esperança.
A liderança no movimento estudantil me fez conhecer e conviver com
todo o Brasil logo ao final da minha adolescência. Aliás, na época,
aprendi mesmo a fazer política no Rio, em Minas, na Bahia e em
Pernambuco, aos 21 anos de idade. O longo exílio me levou sempre a
enxergar e refletir sobre o nosso país como um todo.
Minha história pessoal está diretamente vinculada à valorização do
trabalho, à valorização do esforço, à valorização da dedicação.
Lembro-me do meu pai, um modesto comerciante de frutas no mercado
municipal: doze horas de jornada de trabalho nos dias úteis, dez horas
no sábado, cinco horas aos domingos. Só não trabalhava no dia 1 de
janeiro. Férias? Um luxo, pois deixava de ganhar o dinheiro da nossa
subsistência. Um homem austero, severo, digno. Seu exemplo me marcou
na vida e na compreensão do que significa o amor familiar de um
trabalhador: ele carregava caixas de frutas para que um dia eu pudesse
carregar caixas de livros.
E eu me esforço para tornar digno o trabalho de todo homem e mulher,
do ser humano como ele foi. Porque vejo a imagem de meu pai em cada
trabalhador. Eu a vi outro dia, na inauguração do Rodoanel, quando um
dos operários fez questão de me mostrar com orgulho seu nome no mural
que eu mandei fazer para exibir a identidade de todos os
trabalhadores que fizeram aquela obra espetacular. Por que o mural?
Por justo reconhecimento e porque eu sabia que despertaria neles o
orgulho de quem sabe exercer a profissão. Um momento de revelação a si
mesmos de que eles são os verdadeiros construtores nesta nação.
Eu vejo em cada criança na escola o menino que eu fui, cheio de
esperanças, com o peito cheio de crença no futuro. Quando prefeito e
quando governador, passei anos indo às escolas para dar aula (de
verdade) à criançada da quarta série. Ia reencontrar-me comigo mesmo.
Porque tudo o que eu sou aprendi em duas escolas: a escola pública e
a escola da vida pública. Aliás, e isto é um perigo dizer, com
freqüência uso senhas de computador baseadas no nome de minhas
professoras no curso primário. E toda vez que escrevo lembro da sua
fisionomia, da sua voz, do seu esforço, e até das broncas, de um puxão
de orelhas, quando eu fazia alguma bagunça.
Mas é por isso tudo que sempre lutei e luto tanto pela educação dos
milhões de filhos do Brasil. No país com que sonho para os meus netos,
o melhor caminho para o sucesso e a prosperidade será a matrícula numa
boa escola, e não a carteirinha de um partido político. E estou
convencido de uma coisa: bons prédios, serviços adequados de merenda,
transporte escolar, atividades esportivas e culturais, tudo é muito
importante e deve ser aperfeiçoado. Mas a condição fundamental é a
melhora do aprendizado na sala de aula, propósito bem declarado pelo
governo, mas que praticamente não saiu do papel. Serão necessários
mais recursos. Mas pensemos no custo para o Brasil de não ter essa
nova Educação em que o filho do pobre freqüente uma escola tão boa
quanto a do filho do rico. Esse é um compromisso.
É preciso prestar atenção num retrocesso grave dos últimos anos: a
estagnação da escolaridade entre os adolescentes. Para essa faixa de
idade, embora não exclusivamente para ela, vamos turbinar o ensino
técnico e profissional, aquele que vira emprego. Emprego para a
juventude, que é castigada pela falta de oportunidades de subir na
vida. E vamos fazer de forma descentralizada, em parcerias com
estados e municípios, o que garante uma vinculação entre as escolas
técnicas e os mercados locais, onde os empregos são gerados. Ensino de
qualidade e de custos moderados, que nos permitirá multiplicar por
dois ou três o número de alunos no país inteiro, num período de
governo. Sim, meus amigos e amigas, o Brasil pode mais.
Podemos e devemos fazer mais pela saúde do nosso povo. O SUS foi um
filho da Constituinte que nós consolidamos no governo passado,
fortalecendo a integração entre União, Estados e Municípios;
carreando mais recursos para o setor; reduzindo custos de
medicamentos; enfrentando com sucesso a barreira das patentes, no
Brasil e na Organização Mundial do Comércio; ampliando o sistema de
atenção básica e o Programa Saúde da Família em todo o Brasil;
prestigiando o setor filantrópico sério, com quem fizemos grandes
parcerias, dos hospitais até a prevenção e promoção da Saúde, como a
Pastoral da Criança; fazendo a melhor campanha contra a AIDS do mundo
em desenvolvimento; organizando os mutirões; fazendo mais vacinações;
ampliando a assistência às pessoas com deficiência; cerceando o abuso
do incentivo ao cigarro e ao tabaco em geral. E muitas outras coisas
mais. De fato, e mais pelo que aconteceu na primeira metade do
governo, a Saúde estagnou ou avançou pouco. Mas a Saúde pode avançar
muito mais. E nós sabemos como fazer isso acontecer.
Saúde é vida, Segurança também. Por isso, o governo federal deve
assumir mais responsabilidades face à gravidade da situação. E não
tirar o corpo fora porque a Constituição atribui aos governos
estaduais a competência principal nessa área. Tenho visto gente
criticar o Estado Mínimo, o Estado Omisso. Concordo. Por isso mesmo,
se tem área em que o Estado não tem o direito de ser mínimo, de se
omitir, é a segurança pública. As bases do crime organizado estão
no contrabando de armas e de drogas, cujo combate efetivo cabe às
autoridades federais . Ou o governo federal assume de vez, na
prática, a coordenação efetiva dos esforços nacionalmente, ou o Brasil
não tem como ganhar a guerra contra o crime e proteger nossa
juventude.
Qual pai ou mãe de família não se sente ameaçado pela violência, pelo
tráfico e pela difusão do uso das drogas? As drogas são hoje uma praga
nacional. E aqui também o Governo tem de investir em clínicas e
programas de recuperação para quem precisa e não pode ser tolerante
com traficantes da morte. Mais ainda se o narcotráfico se esconde
atrás da ideologia ou da política. Os jovens são as grandes vítimas.
Por isso mesmo, ações preventivas, educativas, repressivas e de
assistência precisam ser combinadas com a expansão da qualificação
profissional e a oferta de empregos.
Uma coisa que precisa acabar é a falsa oposição entre construir
escolas e construir presídios. Muitas vezes, essa é a conversa de quem
não faz nem uma coisa nem outra. É verdade que nossos jovens
necessitam de boas escolas e de bons empregos, mas se o indivíduo
comete um crime ele deve ser punido. Existem propostas de impor penas
mais duras aos criminosos. Não sou contra, mas talvez mais importante
do que isso seja a garantia da punição. O problema principal no Brasil
não são as penas supostamente leves. É a quase certeza da impunidade.
Um país só tem mais chance de conseguir a paz quando existe a garantia
de que a atitude criminosa não vai ficar sem castigo.
Eu quero que meus netos cresçam num país em que as leis sejam
aplicadas para todos. Se o trabalhador precisa cumprir a lei, o
prefeito, o governador e o presidente da República também tem essa
obrigação. Em nosso país, nenhum brasileiro vai estar acima da lei,
por mais poderoso que seja. Na Segurança e na Justiça, o Brasil
também pode mais.
Lembro que os investimentos governamentais no Brasil, como proporção
do PIB, ainda são dos mais baixos do mundo em desenvolvimento. Isso
compromete ou encarece a produção, as exportações e o comércio. Há
uma quase unanimidade a respeito das carências da infra-estrutura
brasileira: no geral, as estradas não estão boas, faltam armazéns,
os aeroportos vivem à beira do caos, os portos, por onde passam nossas
exportações e importações, há muito deixaram de atender as
necessidades. Tem gente que vê essas carências apenas como um
desconforto, um incômodo. Mas essa é uma visão errada. O PIB
brasileiro poderia crescer bem mais se a infra-estrutura fosse
adequada, se funcionasse de acordo com o tamanho do nosso país, da
população e da economia.
Um exemplo simples: hoje, custa mais caro transportar uma tonelada de
soja do Mato Grosso ao porto de Paranaguá do que levar a mesma soja do
porto brasileiro até a China. Um absurdo. A conseqüência é menos
dinheiro no bolso do produtor, menos investimento e menos riqueza no
interior do Brasil. E sobretudo menos empregos.
Temos inflação baixa, mais crédito e reservas elevadas, o que é bom,
mas para que o crescimento seja sustentado nos próximos anos não
podemos ter uma combinação perversa de falta de infra-estrutura,
inadequações da política macroeconômica, aumento da rigidez fiscal e
vertiginoso crescimento do déficit do balanço de pagamentos. Aliás,
o valor de nossas exportações cresceu muito nesta década, devido à
melhora dos preços e da demanda por nossas matérias primas. Mas vai
ter de crescer mais. Temos de romper pontos de estrangulamento e atuar
de forma mais agressiva na conquista de mercados. Vejam que dado
impressionante: nos últimos anos, mais de 100 acordos de livre
comércio foram assinados em todo o mundo. São um instrumento poderoso
de abertura de mercados. Pois o Brasil, junto com o MERCOSUL,
assinou apenas um novo acordo (com Israel), que ainda não entrou em
vigência!
Da mesma forma, precisamos tratar com mais seriedade a preservação do
meio-ambiente e o desenvolvimento sustentável. Repito aqui o que venho
dizendo há anos: é possível, sim, fazer o país crescer e defender
nosso meio ambiente, preservar as florestas, a qualidade do ar a
contenção das emissões de gás carbônico. É dever urgente dar a todos
os brasileiros saneamento básico, que também é meio ambiente. Água
encanada de boa qualidade, esgoto coletado e tratado não são luxo. São
essenciais. São Saúde. São cidadania. A economia verde é, ao contrário
do que pensam alguns, uma possibilidade promissora para o Brasil.
Temos muito por fazer e muito o que progredir, e vamos fazê-lo.
Também não são incompatíveis a proteção do meio ambiente e o
dinamismo extraordinário de nossa agricultura, que tem sido a galinha
de ovos de ouro do desenvolvimento do país, produzindo as alimentos
para nosso povo, salvando nossas contas externas, contribuindo para
segurar a inflação e ainda gerar energia! Estou convencido disso e
vamos provar o acerto dessa convicção na prática de governo. Sabem por
quê? Porque sabemos como fazer e porque o Brasil pode mais!
O Brasil está cada vez maior e mais forte. É uma voz ouvida com
respeito e atenção. Vamos usar essa força para defender a
autodeterminação dos povos e os direitos humanos, sem vacilações. Eu
fui perseguido em dois golpes de estado, tive dois exílios
simultâneos, do Brasil e do Chile. Sou sobrevivente do Estádio
Nacional de Santiago, onde muitos morreram. Por algum motivo, Deus
permitiu que eu saísse de lá com vida. Para mim, direitos humanos não
são negociáveis. Não cultivemos ilusões: democracias não têm gente
encarcerada ou condenada à forca por pensar diferente de quem está no
governo. Democracias não têm operários morrendo por greve de fome
quando discordam do regime.
Nossa presença no mundo exige que não descuidemos de nossas Forças
Armadas e da defesa de nossas fronteiras. O mundo contemporâneo é
desafiador. A existência de Forças Armadas treinadas, disciplinadas,
respeitadoras da Constituição e das leis foi uma conquista da Nova
República. Precisamos mantê-las bem equipadas, para que cumpram suas
funções, na dissuasão de ameaças sem ter de recorrer diretamente ao
uso da força e na contribuição ao desenvolvimento tecnológico do país.
Como falei no início, esta será uma caminhada longa e difícil. Mas
manteremos nosso comportamento a favor do Brasil. Às provocações,
vamos responder com serenidade; às falanges do ódio que insistem em
dividir a nação vamos responder com nosso trabalho presente e nossa
crença no futuro. Vamos responder sempre dizendo a verdade. Aliás,
quanto mais mentiras os adversários disserem sobre nós, mais verdades
diremos sobre eles.
O Brasil não tem dono. O Brasil pertence aos brasileiros que
trabalham; aos brasileiros que estudam; aos brasileiros que querem
subir na vida; aos brasileiros que acreditam no esforço; aos
brasileiros que não se deixam corromper; aos brasileiros que não
toleram os malfeitos; aos brasileiros que não dispõem de uma
"boquinha"; aos brasileiros que exigem ética na vida pública porque
são decentes; aos brasileiros que não contam com um partido ou com
alguma maracutaia para subir na vida.
Este é o povo que devemos mobilizar para a nossa luta; este é o povo
que devemos convocar para a nossa caminhada; este é o povo que quer,
porque assim deve ser, conservar as suas conquistas, mas que anseia
mais. Porque o Brasil, meus amigos e amigas, pode mais. E, por isso,
tem de estar unido. O Brasil é um só.
Pretendo apresentar ao Brasil minha história e minhas idéias. Minha
biografia. Minhas crenças e meus valores. Meu entusiasmo e minha
confiança. Minha experiência e minha vontade.
Vou lhes contar uma coisa. Desde cedo, quando entrei na vida pública,
descobri qual era a motivação maior, a mola propulsora da atividade
política. Para mim, a motivação é o prazer. A vida pública não é
sacrifício, como tantos a pintam, mas sim um trabalho prazeroso. Só
que não é o mero prazer do desfrute. É o prazer da frutificação. Não é
um sonho de consumo. É um sonho de produção e de criação. Aprendi
desde cedo que servir é bom, nos faz felizes, porque nos dá o sentido
maior de nossas existências, porque nos traz uma sensação de bem estar
muito mais profunda do que quaisquer confortos ou vantagens
propiciados pelas posições de Poder. Aprendi que nada se compara à
sensação de construir algo de bom e duradouro para a sociedade em que
vivemos, de descobrir soluções para os problemas reais das pessoas, de
fazer acontecer.

O grande escritor mineiro Guimarães Rosa, escreveu: O correr da vida
embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí
afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é
coragem. Concordo. É da coragem que a vida quer que nós precisamos
agora.

Coragem para fazer um projeto de País, com sonhos, convicções e com o
apoio da maioria.
Juntos, vamos construir o Brasil que queremos, mais justo e mais
generoso. Eleição é uma escolha sobre o futuro. Olhando pra frente,
sem picuinhas, sem mesquinharias, eu me coloco diante do Brasil, hoje,
com minha biografia, minha história política e com . esperança no
nosso futuro. E determinado a fazer a minha parte para construir um
Brasil melhor. Quero ser o presidente da união. Vamos juntos,
brasileiros e brasileiras, porque o Brasil pode mais.

José Serra