LEITURA CONCLUÍDA.
O livro Italian Fascism and Developmental Dictatorship escrito por A. James Gregor, que foi professor de ciência política em Berkeley e um dos maiores especialistas em fascismo, é leitura obrigatória para qualquer interessado em entender o que realmente foi a ideologia e o regime fascista, para além dos clichês e das bobagens que são repetidas a todo tempo por leigos, pela imprensa e mesmo por supostos especialistas.
O prof. Gregor está entre aqueles que entendem o fascismo como um fenômeno político muito mais abrangente que o regime homônimo que teve lugar na Itália do entre guerras. Antes, o fascismo é uma ideologia explica toda uma série de regimes autoritários e totalitários do século XX: do fascismo italiano ao bolshevismo/ stalisnismo; do maoismo ao castrismo. Nessa perspectiva, o fascismo é transcende as categorias de direita e esquerda e é adequado a explicar regimes políticos de ambos os lados.
Para o prof. Gregor, o fascismo surgiu como uma heresia do marxismo, que procurou dar conta de questões que as teorias de Marx e Engels foram incapazes de responder. A teoria marxista pressupunha uma revolução proletária que ocorreria em países de capitalismo avançado e altamente industrializados Era incapaz, portanto, de explicar e mobilizar a revolução em países atrasados e de pobres - as nações proletárias - oprimidos como eram pelas grandes potências - as chamadas nações plutocráticas. Assim, ao lidar com estas questões que o marxismo teria se convertido na heresia do do sindicalismo revolucionário de George Sorel e, na Itália, de Arturo Labriola, Enrico Leone, passando por A.O. Olivetti, Sergio Panunzio e Roberto Michels que, por sua vez, avoluiu para o fascismo.
Assim, foi necessário desenvolver uma ideologia capaz de mobilizar e integrar as massas nacionais para promover um rápido desenvolvimento econômico nacional. O nacionalismo e a necessidade de um estado forte e totalitário foram, junto com outras características típicas da ideologia, considerados os elemento decisivo para obtenção deste objetivo.
Desse modo, o fascismo, na perspectiva do prof. Gregor, deve ser entendido como uma heresia marxista caracterizada por ser uma ditadura desenvolvimentista, em que um estado totalitário busca mobilizar todas as energias da nação com o objetivo de promover o rápido desenvolvimento econômico do país, sendo este o único modo de um país atrasado adquirir autonomia e independência perante as grandes potências.
Esta perspectiva refuta uma concepção errônea sobre o que foi o fascismo, mas ainda muito popular, a saber, o de que tratou-se de um movimento conservador e mesmo reacionário, levado a cabo por uma elite decadente com o objetivo único de enfrentar as revoluções socialistas que estavam tendo lugar na Europa pós primeira guerra. Para o prof. Gregor o fascismo não tinha nada de conservador, nem de reacionário. Foi antes de tudo uma ideologia revolucionária e modernizante, coerente e consequente no que se propunha. Estas caracteristas do fascismo também são reconhecidas por outros estudiosos, como Zeev Sternhell, Roger Griffin e Stanley Payne.
Como não poderia deixar de ser, a interpretação do Prof. Gregor foi objeto de escrutínio e crítica. Mas é sem dúvida uma das mais importantes e ilumina inúmeras características desse regime. Tem o mérito de refutar as interpretações vulgares que vemos sendo divulgadas por aí como se fossem a verdade absoluta do tema.