Para FHC, governo não definiu uma maneira de combater à inflação e tem receio do custo político da austeridade
Principal desafio da presidenta Dilma Rousseff neste início de mandato, o combate à inflação ainda não conta com um plano bem definido pela equipe do governo. A opinião é do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso que, em entrevista exclusiva ao iG, analisou a volta do tema que foi uma das bandeiras de sua gestão.
Para FHC, atualmente, a inflação é o grande problema a ser enfrentado pelo governo, superando até mesmo a valorização excessiva do real em relação ao dólar. A questão, em sua opinião, é que o combate à inflação tem um alto custo político, por isso o governo tem optado por ser mais cauteloso do que austero.
“A austeridade tem um custo político no curto prazo”, afirmou o ex-presidente. O combate à inflação atinge em cheio a popularidade e o apoio do Congresso ao governo.
Segundo ele, a elevação de 0,25 ponto percentual da taxa básica de juros, realizada pelo Banco Central, na verdade chega a ser uma redução, pois a inflação no período supera a alta.
FHC aproveitou para lembrar que entre o fim de 1994 e início de 1995, o governo teve de conter a forte demanda do mercado interno, impulsionada pela estabilidade econômica conquistada após o Plano Real.
“A melhor forma que encontramos foi o aperto do crédito, com redução dos prazos”, disse. Na época, o prazo foi reduzido para o máximo de três meses.
FHC acredita que o governo Dilma terá de fazer algo semelhante. “O governo também terá de reduzir os prazos dos financiamentos”, afirmou.
Hoje, em sua opinião, a diferença é que a economia está muito mais aberta e o governo pode usar armas de combate à inflação, como o dólar mais baixo, que favorece às importações e aumenta a concorrência no mercado interno. A parte negativa, acrescentou, é o resultado da balança comercial.
Sobre o câmbio, FHC disse acreditar que o real deve estar hoje no maior patamar em relação ao dólar. Sem cálculos precisos, o ex-presidente estimou que o real esteja mais valorizado até mesmo na comparação com a crise cambial de 1999. Na época, o dólar chegou a valer R$ 1,30.